Estamos dormindo?

Na virada do ano novo fui responsável por trazer uma mensagem para a nossa comunidade. O texto escolhido foi Mateus 25, a parábola das dez virgens. Senti que fui compelido a pregar sobre esse texto.

Quando estava preparando a mensagem, vi , pela primeira vez, algo neste texto que não tinha visto antes:

“...E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram...” (Mateus 25:5)

Olhem que interessante, as virgens que eram prudentes por terem o azeite também não estavam acordadas quando o esposo chegou. As virgens que eram prudentes por terem sua “cota” de azeite suficiente para a viagem, dormiram juntamente com as loucas.

Fiquei a imaginar: “será quem sabe, se as prudentes estivessem acordadas não poderiam de alguma forma constranger, impulsionar, incomodar as loucas sobre a necessidade de azeite para um encontro com o esposo?” Quem sabe se estivessem acordadas poderiam acordar as loucas e mostrar-lhes que a quantidade de azeite que dispunham não era suficiente para um encontro com o esposo. “Somente os acordados é que podem tirar os sonolentos do sono”.

Desta parábola eu tirei duas lições:

A primeira e mais conhecida é que o encontro com o esposo requer uma quantidade suficiente de azeite. Não podemos ser negligentes e achar que vamos nos encontrar com o Senhor Jesus se não dispormos de uma vida cheia da presença do Espírito Santo.

A segunda, é que nós, que temos azeite suficiente para o encontro, devemos permanecer acordados a fim de não deixar dormir irresponsavelmente os que ainda não possuem este azeite, pois se dormimos, eles não participarão das bodas com o noivo e ficarão de fora. É um egoísmo dormir enquanto ao nosso lado, dormem pessoas que irão para perdição. Muitas vezes os que não estão preparados para um encontro com Deus estão tão próximos de nós. São familiares, amigos, colegas de trabalho. Quantas vezes olhamos ao lado e vemos pessoas que estão totalmente despreparadas para um encontro com Deus e nós dormimos confortavelmente.

Hoje vemos uma igreja dormindo. Uma igreja muito mais preocupada com si mesmo. Parece que a instituição virou um fim em si mesmo.

O evangelho atualmente pregado é o evangelho de “cada um por si”. Ou seja, Deus me abençoe, Deus me abençoe, Deus me abençoe. Vemos muitos querendo um abraço e poucos querendo abraçar. Vemos muitos querendo uma palavra de conforto, porém poucos dispostos, com tempo e acordados para dar uma palavra de conforto. Vemos muitos querendo uma oração, mas vemos poucos dispostos a orar por outros. Não dá , estamos dormindo.

“Desperta tu que dormes e levanta dentre os mortos”. Temos que acordar. O tempo urge, os dias estão se contando e cabe a nós cristão a responsabilidade de pregar o evangelho. Não podemos dormir enquanto ao nosso lado, dormem os que não entrarão nas bodas do cordeiro.

Hoje tive a notícia do falecimento de um amigo o Jean. Enquanto escrevo estas linhas, meu coração está triste e abatido por que perdi meu amigo.

O Jean era uma pessoa especial. Cheio de problemas como qualquer um de nós. Ia e vinha da igreja assim como as ondas que sobem o descem rapidamente. As vezes estava tão atolado em pecados que eu achava que não tinha mais jeito. Outros momentos eu o encontrava feliz por que estava “firme” na igreja.

Nos últimos meses o reencontrei. Passava por uma fase difícil. Tinha se separado da esposa e estava sentindo a separação. Porém, estava freqüentando uma igreja Assembléia de Deus em Curitiba. Nos re-encontramos depois de pelos menos um ano sem nos ver. Ele estava em comunhão com a igreja e orando pela situação com a esposa. Colocamos em prática o velho sonho que tínhamos de montar uma banda. Eu comecei a compor. Fiz sete musicas e no nosso ultimo encontro combinamos que depois do ano novo, estaríamos nos reunindo a fim de mostrar as musicas a ele a ao Robson, outro integrante do sonho.

Na semana passada eu falei com ele pelo telefone. Conversamos sobre coisas musicais e perguntei como eles estava, ele disse: “firme e feliz com Jesus”. Fiquei de falar com ele nesta semana, porém hoje recebi a notícia do seu falecimento. O Jean, dirigia um carro e sofreu um acidente em uma estrada, chegando em Curitiba. Morte estúpida e violenta.

Reconheço que por várias vezes dormi ao lado do Jean. Algumas vezes, eu acho que assim como ele, não tinha azeite suficiente. Em outras vezes, eu já estava cheio do azeite, mas mesmo assim, talvez não o cutuquei o suficiente a ponto de acorda-lo. Espero não tem sido irresponsável diante da eternidade da vida do meu amigo. Porém em alguns momentos, eu falei sério com ele a respeito da vida que levava e como isto não agradava a Deus. A última conversa que tivemos antes dele voltar para a igreja foi séria. Na rua, na frente da empresa que eu trabalho. Ele veio mostrar um carro novo que tinha comprado e eu fui um “estraga prazer” Eu falei sério com ele a respeito da vida que levava, do trabalho que tinha e de como estava afastado de Deus. Ele sumiu por uns seis meses.

Um dia me ligou e me chamou para fazer um louvor com ele, pois estava indo em uma igreja. Disse que as minhas palavras tinham impactado o seu coração. Disse que no momento ficou muito bravo comigo, porém, com o tempo, aquela palavra entrou no seu coração. . Eu pensei: “é mais uma vez o Jean se converteu”. Confesso que fiquei um pouco indiferente. Fui na igreja com ele, conversei com o Pastor e falei para ele cuidar bem do Jean. Depois ele sumiu de novo e nos reencontramos agora em Outubro, conforme detalhei acima. Desta vez ele estava na Assembléia de Deus e apesar de estar separado e sentindo a separação me pareceu bem melhor e bem mais consciente da sua vida.

As ultimas palavras que ouvi do meu amigo foram: “estou bem, feliz e firme com Jesus”. Eu disse a ele: “se precisar de algo me ligue”.

Sinceramente eu espero que Deus tenha me despertado a fim de que eu nos encontros que tive com ele, o tivesse despertado do seu sono e mostrado que ele não tinha , naquele momento, azeite para um encontro com Deus. Espero, do fundo do meu coração, que na comunidade que ele estava freqüentando, ele possa ter encontrado pessoas acordadas a fim de mostrá-lo que ele precisava encher sua vasilha de azeite, pois um encontro com Deus, precisa de muito azeite. Espero que ela tenha sim, enchido a sua lâmpada, pois o seu momento chegou, ele ouviu a voz: “vem o noivo”.

Que possamos refletir, acordados e não dormindo.

Deus nos abençoe, neste dia.